Facebook e Twitter (Blog N. 576 do Painel do Coronel Paim) - Jornal O Porta-Voz
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Com mais de 5 mil veículos
de comunicação pública, o Brasil tem potencial para instituir um sistema
que, integrado, poderá ter uma dimensão inédita no mundo. Na avaliação
do secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura, Mário Henrique
Borgneth, neste cenário, o papel da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
seria estratégico, no sentido de criar condições estruturais para a
integração.
Borgneth defendeu que, para a EBC
exercer tal papel serão necessários investimentos em conhecimento e
infraestrutura, além de incentivos por meio de políticas públicas.
Segundo ele, é também necessária uma liderança que enxergue as grandes
demandas do sistema, como regionalização, regulação, investimento e
financiamento para tirar da “indigência” boa parte dos sistemas
comunitários. Atualmente, há no Brasil mais de 2 mil rádios comunitárias
sendo alvo de processos.
“São mais de 5 mil veículos públicos no
Brasil. Não há nenhum sistema privado no mundo com essa dimensão. Pensar
isso como sistema significa resgatar parte substancial do mandato da
EBC como linha estruturadora do sistema, com segmentos comunitários,
legislativos, universitários, educativos e cultuirais”, disse Borgneth
nesta sexta-feira (14), no Fórum Brasil de Comunicação Pública 2014.
Presidente da Associação Brasileira de
Canais Comunitários (Abccom), Paulo Miranda diz que o número de veículos
públicos pode aumentar ainda mais, mas que a falta de receita pode
comprometer o futuro. Por esse motivo, defende uma legislação que
possibilite patrocínios para esse tipo de mídia.
“Já conseguimos abrir diálogo (sobre a
veiculação de publicidades institucionais) com a Secom (Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República). Mas até o momento os
valores apresentados são muito baixos, entre R$ 11 e R$ 60 por
inserção”, disse Miranda. Uma alternativa, acrescentou, seria instituir,
no âmbito governamental, uma política de mídia comunitária e um
orçamento participativo dentro do bolo publicitário do governo.
Na opinião do secretário Borgneth, para
evitar o uso político dos veículos públicos de comunicação é fundamental
que se crie um distanciamento entre eles e os veículos estatais
governamentais. Para isso, acrescenta, é necessário, além de estruturar
os veículos estatais, dar autonomia financeira para os veículos
públicos. “Enquanto o Estado pagar a conta do público e não houver o
veículo (genuinamente) estatal, ele vai buscar (esse canal) onde ele
estiver. A tentação é muito grande, até porque o embate (do governo) com
a mídia comercial é cruel”, argumentou.
Outro ponto destacado por Borgneth é a
questão da credibilidade dos veículos públicos. “A audiência, no campo
público, é diferente do privado, e está associada à reputação e à
identidade que temos de construir, que envolve valores e cidadania com o
objetivo de equipar o cidadão para que ele possa sonhar. E, quando
perceber isso, ele estabelecerá vínculos afetivos e de confiança com o
veículo público e com a sociedade”.
Mas para que isso aconteça, acrescentou o
secretário, é preciso que a sociedade “se enxergue nos veículos”, o que
só ocorre com a participação direta dela nesses veículos. “Ou seja, tem
de se oferecer canais de expressão para a sociedade”, disse ele.
“Precisamos de identificação; de um canal permanente de pertencimento”,
resumiu.
“Muitas vezes os veículos caem em uma
cilada de buscar uma fotografia do Brasil de uma falsa harmonia,
falsamente confundido com o Brasil oficial, chapa-branca. Quando não se
enxerga o contraditório, as contradições e os conflitos, o veículo
público empurra essa reputação para o campo do oficialismo. Mas não
somos governo. Somos sociedade. E quanto mais aprofundarmos essa
identidade, menor será a vergonha do investimento social feito nos
veículos públicos de comunicação”, completou.